Evaldo Balbino
Cesse de uma vez
meu sonho vão
de que o verso
brilhe para todos.
Os olhos estão
cansados, outras luzes
acariciam as faces
das pessoas.
O neon das
cidades mostra corpos
e mesas com copos
de cerveja.
As fotos espargem
água insana
pelas redes
sociais e insaciáveis.
Os perfis, os
textos tantos e tontos
curtidos, vistos e
não lidos.
O jogador de
futebol esbanja poses
entre mulheres
seminuas e barcos
num harém que é
motivo de festa
para se publicar e
comentar.
O taxista outro
dia me disse, convicto:
“Nada de livros,
não quero palavras;
só guiar o carro
que é meu pão de cada dia”.
E ele está certo,
o homem sério
com seus filhos,
esposa e a casa simples
comprada a longas
e duras prestações.
Seu carro range
como range a vida
entre o ar pesado
e o seco asfalto
da cidade em
chamas de concreto.
Todos falam do
poeta, dizem dele,
porque é mister
que se fale
da poesia agora e
sempre
sem que nela se
esbarre.
Amam as mãos
vazias do bardo,
plenas só do falar
que nunca cessa.
Amam suas mãos e
desconhecem
o que diz a letra,
o que fala a imagem
em cada verso
feito em contraluz.
Não quero mais
escrever estas linhas,
este bordado que a
custo reluz,
estas palavras em
verso, pantomimas
olhando silentes o
silêncio sem luz.
* A
quem escrever o que escrevo? Por que dizer tanto a pouca gente? Eis um
poema inédito em livro, acabado de se escrever agora, num pensamento meu
sobre esta escrita que me persegue e segue um difícil curso pela vida.
© 2017 Evaldo Balbino
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