Evaldo Balbino
Isto que
escrevo não é um lamento. É apenas uma constatação. Sempre busquei evitar
jargões quando estou escrevendo. Mas agora fiz isso já desde o título. Qualquer
livro de autoajuda diz o que eu disse mais acima: amar é sofrer.
Agora estou
doído e então faço eco do que não me envergonha, faço eco do que me machuca e
se pode dizer com palavras tão simples e diretas. Quem ama, sofre!
Inevitavelmente sofre!
E falo aqui de
qualquer tipo de amor. Desde o mais egoísta (o que se confunde com paixão e
posse), até o mais desinteressado (aquele que, quando pleno, muitos chegam a
dizer que se trata do amor que temos por Deus – um amor sem pedir nada em
troca).
Não vou aqui
discutir esses tipos de amor e nem abordar o que existe de controverso em
muitas questões que lhes dizem respeito. Não sou psicólogo nem teólogo. Muito
menos sou consultor sentimental. Sou apenas um homem que sofre e sente. E
quando sentimos, temos o direito de falar do que sentimos.
Quem ama sofre.
Não tem jeito. A mãe pelo filho que sai de noite e volta altas horas da
madrugada, o namorado pela namorada que ele não pode ajudar em tudo, a irmã
pela outra que não está bem no namoro e causa preocupações, a tia pelo sobrinho
que vai fazer uma prova e está ansioso, o primo pela prima que está grávida e
que sente dores bem antes do parto previsto mais para diante, os filhos pelos
pais avançando em idade, a amiga pelos amigos com indecisões na vida sem saber
que medidas tomar, o dono pelo bichinho de estimação (amigo de longa data ou
recente) cuja saúde está precária, o sobrinho pela tia que quer um namorado e
morre de medo da impossível solidão, a mulher por seu vizinho que perdeu uma
filha recentemente... E a enumeração não para nunca. Um ponto final aqui não
seria condizente. Não seria condizente com a vida de todos os amantes do mundo.
Já é jargão
também citar a famosa frase de Antoine de Saint-Exupéry: “Tu te tornas
eternamente responsável por aquilo que cativas”. E é essa responsabilidade que
nos faz sofrer pelo outro. Tudo o que diz respeito ao ser que amamos, também
nos diz respeito. E não há como fugirmos de sofrer juntos com ele, em diversos
momentos desta passagem linda e dolorosa que é a vida.
E por que,
pois, não abrimos mão do amor, já que ele nos leva inevitavelmente ao
sofrimento?
Conforme eu já
disse, a vida é via dolorosa, mas linda. E na lindeza da vida somos agraciados
com momentos felizes ao lado de quem amamos. Impossibilitados de ser ilhas,
nossos flancos desejam roçar outros flancos, outros olhares, outros braços,
outros seres. Não conseguimos mergulhar nas águas da solidão. Longe de ser
pedras, somos águas-vivas que respiram e banham e tocam outras águas.
Dói afogar-nos
nas águas alheias e nelas nos perdermos. Mas se assim não fizéssemos, não
seríamos vida. Não poderíamos dizer que vivemos. Tanto é verdade o que digo,
que, mesmo evitando buscar outros seres com que me relacionar, eu me torno um
outro de mim mesmo. Minha imagem no espelho, o meu ideal de mim, o modo como me
vejo e me percebo. Sempre darei um jeito de me transformar em outro para falar
comigo, para ruminar meus medos e pensamentos.
É impossível a solidão. E hoje, mesmo me sentido
triste (pelas lonjuras de quem amo, pelas partidas de quem sempre amei, pelos
olhos fechados para o agora em que estou, pela inexistência muitas vezes de
ombros para eu roçar os meus...), dou graças à vida. Dou graças a Deus e a ela,
apesar de tudo. Amemos!
©2017 Evaldo Balbino
Amigo: a distância traz sofrimento ao amor, mas nos dá a certeza de que existe!
ResponderExcluirSem dúvida. A certeza da existência nos acalenta. Um forte abraço!
ExcluirAmei.
ExcluirJovem Evaldo, permita-me deixar um simples comentário em seu texto de tamanha sensibilidade; aquele que escreve como você, demonstrando sentimentos sinceros, colocando-se à mostra e compartilhando suas dores, é um ser humano generoso, que oferece àqueles que não têm a sua facilidade de expressão, um meio de 'catarse', de intimamente dizer 'ele também sofre como eu...'
ResponderExcluirNunca pare de escrever; nunca deixe de oferecer ao outro seu ombro amigo em forma de textos, palavras, entrelinhas, reticências... É uma forma linda de amar, mesmo que doída.
Com o carinho e respeito de sempre,
Lílian Ramires
Querida Lilian, suas palavras me são um alento. A sensibilidade nos governa de várias formas, boas e ruins. E com tudo aprendemos. As dores do mundo nos atravessam. Mas com humanidade, com o contato afável entre as pessoas, entre as vidas, tudo o que é pesado e difícil fica mais leve. Obrigado pelo carinho de sua mensagem. Por mercê de Deus, continuarei escrevendo sim. Esse é o meu desejo. Um forte e amigo abraço.
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