Verso do poema "(Des)motivo" - do livro "Moinho" - 1ª edição 2006; 2ª edição 2021

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Virtualidade

Evaldo Balbino

As noites são incontroláveis;
as tardes, não se pode pegá-las;
nem as manhãs,
que essas são matreiras.
Pode-se amá-las inteiras,
pode-se amá-las a penas,
na memória, no retrato,
sem tempo, sem posse, sem mãos.


(BALBINO, Evaldo. Moinho: Scriptum, 2006, p. 20)

(Des) motivo


Evaldo Balbino


Escrevo porque o tempo insiste

e a minha vida está incompleta.

Ora sou alegre, ora triste:

sou poeta.



Fujo das coisas fugidias,

no entanto delas é que eu faço

meu gozo, meu tormento e dias

no traço.



Nestes versos que edifico,

não sei se fico ou me desfaço,

– não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.



Este é o meu canto: um nada que é tudo,

notas do tempo em que, disperso,

sei-me entoando um canto mudo:

– mais nada.


(BALBINO, Evaldo. Moinho: Scriptum, 2006, p. 39)