Verso do poema "(Des)motivo" - do livro "Moinho" - 1ª edição 2006; 2ª edição 2021

sexta-feira, 31 de março de 2017

Pedras entre mares


Evaldo Balbino

A ilha
é um olho vendado a me olhar.
É mar
no vácuo impenetrável de um lar,
onde a família é ilhada.

A ilha
é a marca intocável de um corpo
protelando um encontro imaginário em um bar,
onde bebe embriagada a humanidade.

A ilha
é retórica terrível de um narciso.
É discurso infindável e solitário de um mundo,
onde o fundo da existência é dividido.

A ilha
é muro venéreo de um estado.
É luto anunciado por um mudo,
cuja palavra é fria e isolada.

A ilha
é a palavra isolada de uma língua.
É código onde os corpos e a cor do amor
são indecifráveis.

A ilha
é uma ilha ilhada em alto-mar.

(BALBINO, Evaldo. Filhos da pedra. São Paulo: Nelpa, 2012. p. 49)

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