Verso do poema "(Des)motivo" - do livro "Moinho" - 1ª edição 2006; 2ª edição 2021

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Nossa cidade, nosso futuro: contação de história e conscientização em Éllen Santa Rosa


Minha cidade, meu futuro!, livro infantil de Éllen Santa Rosa com belas ilustrações de Dam d'Souza, é história contada com desenvoltura e de modo direto. De enredo simples, mas com profundidade de tema, pois discute questões socioambientais concernentes às cidades grandes.

Miguel é um garoto esperto, consciente sobre o mundo que habitamos. Saiu há pouco da roça para morar na cidade grande. Toda a narrativa se concentra num passeio dele com o avô — o primeiro que realiza, agora como morador da cidade, pois antes ele foi ali apenas visitante. E já é dito de cara ao leitor que o avô dizia ao neto que ali, na cidade grande, estaria o futuro do garoto.

Mas a cidade tem problemas causados pelos humanos: ônibus lotados, calor forte por causa da poluição, poucas árvores, ruídos excessivos, céu escondido pelos prédios altos, lixo espalhado, mosquitos atraídos pelo lixo.

Pequeno ainda, Miguel já aprendeu na escola rural coisas importantes. Uma delas é que o mundo precisa do nosso cuidado e que cuidar do mundo é também cuidar de nós. Assim ele fala ao avô quando ambos estão sentados no banco de uma praça e os olhos infantis estão vendo lixo esparramado atrás do banco: "— Então precisamos fazer alguma coisa agora, no presente, senão não teremos um bom futuro por aqui não..." (p. 12).

Depois desse episódio, o menino, instado pela voz do avô, começa a dar sugestões do que pode ser feito para serem melhoradas as condições ruins da cidade. Tudo questão de atitudes humanas mais adequadas. Empolgado com a própria fala, o garoto vai dizendo tudo mais alto e, com isso, vai chamando a atenção das pessoas que passam pelo lugar. Vão parando para escutá-lo.

Da fala infante, as atitudes de todos. As palavras do garoto mostram a importância da Educação, no espaço mesmo escolar, e de como as sementes plantadas pela Escola, quando bem semeadas, podem ser espalhadas alhures e render bons frutos. Mesmo que isso seja a longo prazo, não importa!

Destaque-se que a pequena história do passeio de Miguel com o avô não se prende apenas a aspectos negativos da cidade. Os montes que rodeiam a urbe, os parques tantos, as praças com brinquedos para as crianças — tudo isso compõe os elementos descritivos dados ao leitor.

Somam-se a essa positividade as ilustrações de Dam d'Souza. Reforçam elas a diversidade étnica dos moradores da cidade. Miguel e o avô são negros. Personagens figurantes pardas e brancas comparecem nas imagens. A graciosidade dos traços mostra casas e prédios, automóveis, casais dividindo a vida, o verde da natureza em meio à secura do concreto, uma senhora alimentando pombos na praça, uma personagem fazendo cooper nesse mesmo espaço, faces alegres por uma cidade melhor.

Deve-se realçar que, nas páginas 8 e 9, a cidade em sua secura urbana e o rosto em destaque e triste de Miguel (no lado esquerdo) contrastam com a imagem de dois pequenos vasos pendendo de um poste (no lado direito), como se fossem lampiões, cada um de um lado como que ligados por uma balança em equilíbrio. O verde com o verde, vida pura. E a explosão do verde, no campo imagético, se dá em duas páginas (p. 26-27) no final da história, quando se vê a cidade rodeada por montes e com casas entre fartos verdes.

Minha cidade, meu futuro! é história em que o verbal e as ilustrações se conjugam para dizer, com desenvoltura, sobre um possível mundo melhor para todos: a nossa cidade, o nosso futuro.

© Evaldo Balbino — 21 de setembro de 2021

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