Evaldo Balbino
Hoje pela manhã me dei um
presente. Que a gente deve se amar dessa maneira, presentear-se, e não esperar
que apenas os outros nos amem, nos presenteiem. O amor a si mesmo não é
egoísmo, e sim um modo de se fazer existir, de se ter autoestima, de um
reconhecimento em si dos próprios limites, mas também dos próprios e adoráveis
valores.
Nesse amor de mim para mim
mesmo, me dei então um presente. Em sintonia com as modernidades, não busquei
discos, porque não os tenho; nem CDs, pois estes estavam lá num armário e a
preguiça domingueira não me deixou sair da cama. Acessei então o “doutor”
Google e naveguei pela modorra dominical.
Na Web, fui direto para as
canções do Vander Lee, esta cigarra sem peias que compôs e cantou tão bem nesta
vida. As baladas do Vander me embalam, me dançam, me fazem sentir e apreciar a
boa poesia na música. Já tive oportunidade de escrever sobre o artista em outro
momento, uma hora triste, quando ele faleceu. Fiz isso no dia 08 de agosto de
2016 numa crônica chamada “Trem do desejo pela noite escura”, a qual foi
publicada no Jornal das Lajes. Foi-se ainda muito jovem o Vander, mas deixou
obra de fôlego e consumada.
A canção que me dei nesta
manhã foi nada mais nada menos do que “Onde Deus possa me ouvir”. Foi um vídeo ao
que acessei. E um desejo como um rio profundo me atravessou, um silêncio na
melodiosa voz do cantautor, seu semblante circunspecto, seu corpo curvando-se
nos momentos em que a letra demanda um corpo curvado, a boca se abrindo e os
olhos dizendo tudo junto com as palavras. E de vez em quando o cantor sorrindo,
pois o sorriso é necessário nesta vida mesmo quando falamos de coisas muito
sérias.
E meu corpo mergulhou na música,
meu corpo querendo encontrar alguém sem palavras, mas alguém que me oferecesse
um colo ou um ombro. Alguém que viesse para ouvir desenganos desta vida louca,
de pessoas tristes, de amigos nem tanto amigos assim. Vander me acendeu, mais
uma vez, o anseio de eu morar no meu interior, para ali, nos recônditos do meu
ser, entender mais as agressões entre as pessoas, os seus combates e debates,
os abismos escuros onde se jogam o tempo inteiro.
E se eu encontrasse esse
alguém com um ombro amigo, aí eu lhe pediria, como o fez o cantor, pra eu chorar
até cansar, pra ele me levar a algum sítio onde Deus em sua plenitude pudesse
me ouvir. E eu diria ao ombro amigo e a Deus que não consigo compreender tão
grande dor. Meu coração não abarca dor tão absurda. A dor em pensar nesse mundo e suas sombras. E também a dor, a que me salva, a que me atravessa e
me fere quando escuto a beleza e as verdades dessa canção.
E continuei vendo o vídeo e
ouvindo a música. Atento, amante. Aprendendo que não devemos buscar diretamente
no outro a completude da nossa vida. Só indiretamente é que devemos fazê-lo, e
é através do belo que reside em tudo aquilo que o outro é capaz de produzir.
Uma busca direta, imediata
mesmo, devemos fazê-la no seio de Deus. Ele sim é a própria completude. Um deus
muito além das representações fragmentárias e humanas. E com esse deus me abro
e dispo meu corpo e minha alma. Tiro a roupa e me entrego. E aproveito para lhe
pedir um pouco de bebida, que ninguém é de ferro. E ele consente, de puro amor.
© Evaldo Balbino 2018
Meu bom e querido Amigo.
ResponderExcluirVocê pode questionar minha amizade, ante a ausência física que me caracteriza as ações... perdoe-me, é que ainda não consegui sair do lugar em que me encontro para ir, fisicamente, à presença de quem amo... é um defeito... talvez com origem lá na infância, local que me aparece na mente quando me questiono sobre o que sou, o que faço, qual a finalidade de minha estadia por aqui...
Entretanto, 'sigo de longe' as pessoas que são caras ao meu coração e de vez em quando, apareço para dar alguns palpites...infelizmente, sem me fazer fisicamente presente.
Assim, hoje deixo para você Maria Dolores; ela é para mim, em algumas ocasiões, o 'anjo' que Vander Lee foi para você neste domingo.
BURIL DE LUZ
Em teus dias de dor,
recorda, alma querida,
que a dor é para a vida
aquilo que o buril severo e contundente,
entre as mãos do escultor,
é para o mármore sem forma...
Golpe aqui, golpe ali, outro mais e mais outro,
um corte de outro corte se aproxima,
e o bloco se transforma
em celeste beleza de obra-prima.
Que seria da pedra abandonada, ao chão,
triste, bruta, singela,
se a vida não traçasse para ela
planos de construção?
Que destino o da argila esquecida e vulgar,
sem a temperatura desumana,
que deve suportar
para ser porcelana?
Enxergaste, algum dia,
fora das leis da natureza,
o trigo que não fosse triturado
para ser pão à mesa?
Se alguém te fere e humilha, ama, entende, perdoa
e agradece ao trabalho, a angústia e a prova,
em que a vida imortal se nos renova,
no anseio de ascensão que nos guia e abençoa...
Alma Querida, escuta!...
Para seguir à frente,
em plena elevação,
sempre mais alta e linda,
quem não chora, não serve e nem padece ou luta,
parece-me tão somente
um ser espiritual em formação
que não nasceu ainda...
E você já está entre nós Querido, porque sua vida é plena de sensibilidade e produção digna, embora, como já escrevi em outra oportunidade, esta dor de quem sente o que outros nem sequer percebem, é uma forma linda de auxiliar, entretanto, dolorida, porque deixa em que a sente as vibrações dos sofrimentos alheios...
Quando esta dor é nossa, somente a prece pode trazer luz ao nosso espírito, uma vez que é através desta estrada de luz que nosso amigo espiritual, conhecido por muitos como 'anjo da guarda", fala ao nosso íntimo. Desta forma, escute Vander Lee e quando sentir sua alma mais leve, depois das necessárias horas de choro, eleva seu pensamento em oração. Deus, Pai de misericórdia infinita se apresenta, através de um ombro amigo ou por outra forma que consiga leva-Lo até você.
Neste meio tempo aqui estou, 'seguindo-o de longe', orando por você.
Com carinho e respeito,
Lílian Ramires
Minha querida Lilian, boa noite!!! Eu estava parado com o blog, e somente agora, na lida da vida, é que o estou retomando. Não questiono sua amizade, pois o bom sentimento verdadeiro não precisa da presença física. Sempre estamos em sintonia, isso é que importa. Fico agradecido por suas palavras, pelo poema de Maria Dolores (espírito que muito admiro). Beijos no seu coração!!!!!
ExcluirLinda crônica. Adoro Vander Lee. Emoção Ida.Parabéns, Evaldo
ResponderExcluirObrigado, Márcia! Vander é música para os nossos ouvidos. Beijos amigos.
ExcluirEmoção pura
ResponderExcluirGrato, sempre grato!!!!
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