Verso do poema "(Des)motivo" - do livro "Moinho" - 1ª edição 2006; 2ª edição 2021

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Que país é este? O que o Governo Federal está comprando com dinheiro público




Evaldo Balbino


Uma coisa é um país,
outra um fingimento.

Uma coisa é um país,
outra um monumento.

Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.

Affonso Romano de Sant’Anna


Na tarde de ontem, 13 de julho de 2017, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara rejeitou o parecer de Sergio Zveiter que autorizava o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da denúncia contra Michel Temer.
Esse resultado na CCJ já se prometia. Afinal, há duas semanas o Executivo vinha trabalhando fortemente para garantir a rejeição do texto, com manobras no mínimo espúrias: a troca de integrantes da CCJ, o estímulo para que as lideranças partidárias pressionassem os deputados a votarem a favor do Planalto e a liberação acelerada de emendas parlamentares.
As três mencionadas ações do Planalto são, indubitavelmente, abomináveis. São manobras escancaradas de um governo que não se envergonha de fazer o que faz. O sentimento da vergonha, aliás, não existe de fato em grande número de nossos parlamentares. O lema de Michel Temer é “manter o poder, custe o que custar”.
Trocar membros de uma comissão como a CCJ é normal. Mas fazê-lo ao bel prazer do vento, ou melhor, de acordo com interesses escusos, é ato que reforça a ilegitimidade do governo Temer. Ilegítimo desde seu início, prossegue ele agora manejando as marionetes do Congresso para sustentar sua governabilidade insustentável. Membros foram retirados à força da bancada, foram obrigados a sair dela justamente porque não coadunam com a busca enviesada que a presidência da República vem fazendo pela manutenção do próprio poder.
Estimular lideranças partidárias para imporem aos filiados os caminhos a seguir é atitude no mínimo antidemocrática. Onde fica a liberdade individual de expressão? É claro que um filiado tem diversos pontos em comum, do ponto de vista político-ideológico, com o seu partido. No entanto, isso não pode eliminar a individualidade do sujeito cujo cargo deve ser de representabilidade daqueles eleitores que nele confiaram. Nesse sentido, cabe a cada um, no campo democrático, fazer suas escolhas, sem que, caso seja dissidente, venha a ser punido por isso.
Liberar aceleradamente recursos para parlamentares é outra manobra para comprar apoio desses pobres homens escravos do dinheiro e do poder. De fato, num ano em que órgãos federais tiveram que reduzir despesas por causa do corte bilionário do orçamento federal, Michel Temer vem acelerando a liberação de dinheiro das emendas que parlamentares fazem ao orçamento. Todos nós sabemos que deputados e senadores usam esse dinheiro nas suas bases eleitorais. E, diga-se ainda de passagem, os parlamentares mais beneficiados são os que estão caminhando cada vez mais para o lado do governo ou ao seu lado já estão. Na tarde de hoje, inclusive, conforme denunciou em seu discurso na CCJ o relator Sergio Zveiter, "Temer acha que usando dinheiro público pode submeter a Câmara ao seu bel sabor". O pior é que até agora o nosso governante-mor tem logrado isso.
Como um governo troca membros de uma comissão que deveria ser séria, e faz isso ao seu bel prazer (interesse)? Como esse governo oprime antidemocraticamente parlamentares a seguir uma única tendência (a da própria situação governista)? Como ainda esse mesmo governo compra apoio liberando dinheiro para emendas de parlamentares, justamente num momento em que a própria administração federal tem feito cortes drásticos no orçamento público?
Do mesmo modo como indagaria o grupo musical Legião Urbana, indago inconsolável: Que país é este, cuja podridão fede no “Senado”? Que país é este que está assistindo a um governo ilícito usar deslavadamente o dinheiro público para comprar votos de parlamentares? Essa liberação fácil de verbas não se justifica num cenário de contenção de despesas imposta pelo próprio governo. Mas se explica, evidentemente, pelo necessário apoio que Temer busca num parlamento já apodrecido em sua grande e talvez maior parte.
E como, pergunto por fim e mais enfaticamente, como estamos assistindo a tudo isso sem nada fazer ou fazendo pouco? O que faremos com e nesse país? Aproveitemos que agora, durante o recesso de julho, os ilustres deputados voltarão para suas bases eleitorais, lá onde estarão próximos de fato de seus eleitores. Hora propícia esta para que a vontade das pessoas, da maioria, se faça valer. Pressionemos os parlamentares a cumprirem seu papel com dignidade, qual seja: permitir o curso do julgamento de Michel Temer, para que esclarecimentos sejam feitos à população. Mesmo que seja inocente, o governante deve deixar isso cristalino para o povo. É isso que garantiria a governabilidade. E só num processo de julgamento, com acusação e defesa em diálogo (sempre se ouvindo o contraditório), é que se podem buscar aclaramentos.
Ajudai-me, por favor, a responder às perguntas que ora faço. Ajudemo-nos com voz politizada aos quatro ventos, para que os rumos de nossa política mudem. Uni-vos, todos os que estão lendo isto!



© Evaldo Balbino 2017

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