Evaldo
Balbino
Uma
coisa é um país,
outra
um fingimento.
Uma
coisa é um país,
outra
um monumento.
Uma
coisa é um país,
outra
o aviltamento.
Affonso
Romano de Sant’Anna
Na tarde de ontem, 13 de julho de 2017, a Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara rejeitou o parecer de Sergio Zveiter que autorizava o
julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da denúncia contra Michel Temer.
Esse resultado na CCJ já se prometia. Afinal, há duas semanas o
Executivo vinha trabalhando fortemente para garantir a rejeição do texto, com manobras
no mínimo espúrias: a troca de integrantes da CCJ, o estímulo para que as
lideranças partidárias pressionassem os deputados a votarem a favor do Planalto
e a liberação acelerada de emendas parlamentares.
As três mencionadas
ações do Planalto são, indubitavelmente, abomináveis. São manobras escancaradas
de um governo que não se envergonha de fazer o que faz. O sentimento da
vergonha, aliás, não existe de fato em grande número de nossos parlamentares. O
lema de Michel Temer é “manter o poder, custe o que custar”.
Trocar membros de uma
comissão como a CCJ é normal. Mas fazê-lo ao bel prazer do vento, ou melhor, de
acordo com interesses escusos, é ato que reforça a ilegitimidade do governo
Temer. Ilegítimo desde seu início, prossegue ele agora manejando as marionetes
do Congresso para sustentar sua governabilidade insustentável. Membros foram
retirados à força da bancada, foram obrigados a sair dela justamente porque não
coadunam com a busca enviesada que a presidência da República vem fazendo pela
manutenção do próprio poder.
Estimular lideranças
partidárias para imporem aos filiados os caminhos a seguir é atitude no mínimo
antidemocrática. Onde fica a liberdade individual de expressão? É claro que um
filiado tem diversos pontos em comum, do ponto de vista político-ideológico,
com o seu partido. No entanto, isso não pode eliminar a individualidade do
sujeito cujo cargo deve ser de representabilidade daqueles eleitores que nele
confiaram. Nesse sentido, cabe a cada um, no campo democrático, fazer suas
escolhas, sem que, caso seja dissidente, venha a ser punido por isso.
Liberar aceleradamente
recursos para parlamentares é outra manobra para comprar apoio desses pobres
homens escravos do dinheiro e do poder. De fato, num ano em que órgãos federais
tiveram que reduzir despesas por causa do corte bilionário do orçamento
federal, Michel Temer vem acelerando a liberação de dinheiro das emendas que
parlamentares fazem ao orçamento. Todos nós sabemos que deputados e senadores
usam esse dinheiro nas suas bases eleitorais. E, diga-se ainda de passagem, os
parlamentares mais beneficiados são os que estão caminhando cada vez mais para
o lado do governo ou ao seu lado já estão. Na tarde de hoje, inclusive, conforme
denunciou em seu discurso na CCJ o relator Sergio Zveiter, "Temer acha que
usando dinheiro público pode submeter a Câmara ao seu bel sabor". O pior é
que até agora o nosso governante-mor tem logrado isso.
Como um governo troca
membros de uma comissão que deveria ser séria, e faz isso ao seu bel prazer
(interesse)? Como esse governo oprime antidemocraticamente parlamentares a
seguir uma única tendência (a da própria situação governista)? Como ainda esse
mesmo governo compra apoio liberando dinheiro para emendas de parlamentares,
justamente num momento em que a própria administração federal tem feito cortes
drásticos no orçamento público?
Do mesmo modo como
indagaria o grupo musical Legião Urbana, indago inconsolável: Que país é este, cuja
podridão fede no “Senado”? Que país é este que está assistindo a um governo
ilícito usar deslavadamente o dinheiro público para comprar votos de
parlamentares? Essa liberação fácil de verbas não se justifica num cenário de
contenção de despesas imposta pelo próprio governo. Mas se explica,
evidentemente, pelo necessário apoio que Temer busca num parlamento já
apodrecido em sua grande e talvez maior parte.
E como, pergunto por
fim e mais enfaticamente, como estamos assistindo a tudo isso sem nada fazer ou
fazendo pouco? O que faremos com e nesse país? Aproveitemos que agora, durante
o recesso de julho, os ilustres deputados voltarão para suas bases eleitorais,
lá onde estarão próximos de fato de seus eleitores. Hora propícia esta para que
a vontade das pessoas, da maioria, se faça valer. Pressionemos os parlamentares
a cumprirem seu papel com dignidade, qual seja: permitir o curso do julgamento
de Michel Temer, para que esclarecimentos sejam feitos à população. Mesmo que
seja inocente, o governante deve deixar isso cristalino para o povo. É isso que
garantiria a governabilidade. E só num processo de julgamento, com acusação e
defesa em diálogo (sempre se ouvindo o contraditório), é que se podem buscar
aclaramentos.
Ajudai-me, por favor, a
responder às perguntas que ora faço. Ajudemo-nos com voz politizada aos quatro
ventos, para que os rumos de nossa política mudem. Uni-vos, todos os que estão
lendo isto!
© Evaldo Balbino 2017
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